Dont Lock The Door escrita por shizumukako


Capítulo 1
Capítulo Único.




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Dont Lock The Door 

    

    Brinquedos, muitos brinquedos. A mão suavemente infantil mas de uma textura firme, movia-se de forma defensiva e ágil, como se sua vida dependesse de que a tarefa de guardá-los fosse cumprida.

 

    Um, dois brinquedos. Cinco. Oito. Near se ergueu do chão assim que a caixa de madeira estava cheia e, com um empurrão sobre a tampa, a fez se fechar – A empregada do orfanato não gostava de arrumar seus brinquedos; Eram muitos para ela.

 

   Os passos começaram a o guiar para fora de seu quarto, hesitantes, até que uma das portas ligeiramente aberta no meio do corredor fez com que o garoto se lembrasse de que precisava ser rápido. Se aproximou da porta em passos lentos, logo esticando-se para alcançar a maçaneta, ao mesmo tempo em que agradecia mentalmente o fato da porta estar aberta. Ele nunca ficava alto o bastante para conseguir abri-la e isso só fazia com que Mello risse histericamente do outro lado, sempre provocando o menor e atrasando o momento dos dois garotos se verem, torturando Near de impaciência. Mas não era essa situação que se adequava ao momento; a tortura viria logo depois.

 

   Quando a porta finalmente fora aberta, um garoto loiro e com os lábios desenhados em um sorriso bonito parecia já o esperar. Os fios claros de seu cabelo eram bagunçados, mas a franja era de um liso perfeitamente ajeitado, como se apenas aquilo deixasse bem claro o contraste de certo e errado de sua personalidade.

 

     — Estava esperando você.

     — Sabia que eu viria?

     — Sim.

     — Por isso não deixou a porta trancada?

 

   O loiro apenas sorriu presunçoso em resposta, virando-se de costas e caminhando em direção a cama. Assim que se sentou, voltando a ficar de frente para Near, ergueu os olhos  focalizando o estranho menino parado em sua frente. O silêncio reinou por alguns segundos, até que os sapatos de Near chocaram-se contra o piso de madeira, fazendo inúmeros toc toc enquanto o garoto fazia o mesmo caminho de antes percorrido por Mello.

 

   O colchão afundou ainda mais quando Near sentou, agora permanecendo ao lado do outro. Ambos os olhos se encaravam em uma distração gostosa e, na medida em que os dois exploravam-se visualmente, os corpos eram inclinados para mais perto, o nariz do maior deslizando sobre o seu próprio. Quando as respirações começaram a se fundir, Mello deixou com que a distância fosse finalmente vencida e tocou seus lábios contra os de Near. Esse último retribuiu o gesto, incapaz de aprofundar o contato. A idade de ambos ainda era muito pequena para que conseguissem o fazer.

 

    — Creio que meus novos pais já tenham chegado.

 

   Os olhos de Near abriram-se de forma triste. Estava esperando que a vontade de ficar perto da outra criança parasse, afinal sempre diziam que paixões eram passageiras. Essa parecia não querer cessar.

 

     — Você não pode voltar às vezes?

 

   A pergunta fez com que um ligeiro sorriso aparecesse no canto dos lábios do loiro, porém, o ato dessa vez era carregado de uma melancolia sincera, como se retribuísse o mesmo sentimento de Near.

 

     — Acho que a Austrália é um país longe. – Comentou, pensativo. Grande parte da atenção ainda era depositada em Near. – Mas, quando eu crescer, vou aprender como sair de lá para vir até aqui. – A voz infantil soava cheia de certeza, certo de que pessoas adultas cultivavam várias sabedorias geográficas com o tempo, sem nunca precisarem estudar quando crianças. – E então eu volto para te buscar. Mas você não vai querer roubar meus pais, não é?

 

   O pequeno garoto, dono dos cabelos brancos e cacheados, finalmente rira. Mais fácil seria sua vontade o fazer querer roubar Mello para si, mas isso não era algo que iria comentar.

 

     — Não quero ter pais.

 

     — Então vamos ser só eu e você. Vamos ser amigos para sempre!

  

   Mello desceu da cama a procura de sua mochila, logo após ter terminado mais uma despedida, ambas as crianças selando os lábios novamente em sinal de promessa. A curta esperança se esvaia aos poucos, na medida em que a presença do loiro ficava cada vez mais longe no corredor. Near se deixou lembrar outra vez das histórias que contavam; o encaixe principal sempre voltava. O final era feliz. Questionou-se sobre essa ser mesmo a verdade uma vez que já haviam errado dizendo que seu sentimento iria passar. Sentiu-se confuso, perdido. Mello não estava mais ali.

 

   Com um cansaço visível, o garoto permitiu que seu corpo desabasse sobre a cama que nem mesmo o pertencia. O perfume que estava tão perto a alguns minutos atrás preencheu de novo suas narinas lhe dando um conforto pleno, mas, assim que a cabeça tocou o travesseiro, algo o incomodou. Near se mexeu entre as cobertas, ajeitando-se infantilmente antes de encaixar mão por baixo do travesseiro. Tirou-a de lá carregando uma das enormes barras de chocolate que Mello sempre levava consigo e, junto disso, um sorriso que havia se aberto outra vez.


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Notas finais do capítulo

Fim, rá.