“Ei...ei, Dougie.” Eu chamei, estendendo o braço para tocar levemente o ombro do meu melhor amigo. Ele se esquivou, sem ao menos tentar ser sutil. Eu tinha esquecido: agora isso era desconfortável para ele.

“O que foi?” ele fechou a porta de seu armário com um baque e se virou para me olhar, seu tom de voz deixando transparecer sua irritação. “Vai me dizer de novo que a Frankie não presta e que não deveria continuar com ela?” Ele cerrou os punhos. Óbviamente, minha presença o estava incomodando. Engoli em seco e sacudi a cabeça.

“Esqueçe.” Com isso, virei as costas e caminhei a passos lentos pelo corredor da escola. Suspirei, isso não deveria estar acontecendo. Eu deveria ter ficado quieto. Agora, por conta de um deslize meu, estava perdendo a amizade dele.

Foi há dois dias atrás, em um Sábado, que eu confessei meus sentimentos para ele. Lembro de quase me cagar de medo, pensando apenas em como tudo podia dar errado.

“Terminei com a Georgia.” Minhas palavras pareceram ecoar pelas paredes do quarto dele. Sua expressão demonstrava que ele não fazia ideia do que estava acontecendo.

“Mas por que, Dan?” a confusão em seus olhos me fez perceber que ele, de alguma maneira, desconfiava que isso tinha algo a ver com ele. Coçei a cabeça, respirei fundo e encarei seus olhos azuis.

“Porque não a amo.” Puxei a cadeira da escrivaninha e me sentei, levando as mãos à cabeça enquanto deixava escapar um suspiro. “Meu relacionamento com ela era uma mentira, um jeito de tentar esqueçer outra pessoa. Porque nunca daria certo. Isso tá na minha cabeça há algum tempo e tá me matando aos poucos. Preciso botar isso pra fora, mesmo sabendo que essa pessoa nunca vai me aceitar.” Ele franziu a testa, preocupado.

“Dude, diga logo quem é.” Havia, inclusive, um pouco de impaciência em seu tom de voz. Nesse momento, meus olhos se mantiveram fixos nos dele, em um momento de decisão.

“É você, Poynter.”

Eu esperava que ele gritasse comigo. Esperava que saísse do quarto. Esperava até que tirasse uma com a minha cara. Mas não esperava que ele ficasse mudo. Não esperava que ele simplesmente me fitasse com aquela repulsa que escureceu seus olhos azuis. Então não tive outra opção a não ser me levantar e ir embora. - Ainda com um pouco de esperança que ele teria a decência de me impedir. Mas isso não aconteceu.

Desde aquele momento, ele passou a agir extremamente na defensiva. Como se eu fosse portador de um vírus mortal e altamente contagioso. Era horrível. – Nos meus dezessete anos de vida, nunca havia me sentido tão patético.

Estava fazendo o melhor que podia para deixar as coisas normais novamente. Mas parecia que ele não iria esquecer minha confissão muito cedo. Eu tinha estragado tudo.

Entrei na sala de aula e me sentei na mesa de sempre, ao lado da de Dougie. Foi quando notei que algumas pessoas estavam cochichando e olhando para mim. Ergui uma sobrançelha, um pouco confuso. Nesse momento, Dougie entrou, parou de andar por um momento ao me ver e foi se sentar do outro lado da sala.

Aquilo me cortou. Definitivamente, as coisas não seriam mais as mesmas.